pensamentos errantes...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

vontade louca de ser verborrágica

Deu uma vontade louca de escrever. E deve ser principalmente pelo prazer de saber que ninguém (ou quase ninguém - sei lá) vai ler. Isso é o que mais me diverte nesse blog. Adoro escrever para mim mesma, sem o menor compromisso com o leitor. Ninguém precisa gostar, só eu. Ou nem eu, porque eu nunca gosto do que eu escrevo. E fica aquela sensação ótima de que ninguém liga pro que eu to fazendo - então eu posso fazer qualquer coisa. Ou nada.
Isso aliás me remete aos novos sentimentos que estou experimentando. Esse negócio de fazer política não é fácil. O que acontece é que o que estou (e estarei) fazendo não é exatamente política, apesar da importância histórica do Movimento Estudantil. Hoje, ele está às moscas, abandonado e autista, falando para ninguém (e às vezes nem falando). E o Calc (Centro Acadêmico Lupe Cotrim) está no meio dessa bagunça, e eu no meio do Calc, e meus pensamentos bagunçados no meio disso tudo.
E aí? O que a gente faz para ser ouvido? Grita? Canta? Desencana?
Não quero desencanar. Ainda estou com o gás do início da luta. E, agora, quero fazer de tudo para me aproximar dos estudantes que pretendo representar. Representabilidade essa bastante discutível, visto que quase ninguém vota, e que a eleição é de chapa única.
Mesmo assim, ainda pretendo tentar. Mesmo sabendo que pouco mudarei do mundo. Mas aprendi que se eu mudar a vida de uma pessoa pelo menos, já terei feito muito nesse caso. Sei lá, mais pensamentos babacas que eu não sei pra onde vão me levar. E aí?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O banco da praça

Ela andava porque seus pés não obedeciam a sua cabeça. Mas a verdade é que ela nem sabia se queria sentar, correr, andar. Acendeu um cigarro (para isso teve que parar, fazer o que, suas habilidades não permitiam tamanha façanha). Ficou olhando a fumaça ir subindo, fazendo movimentos de acordo com o seu andar. O vento cortava a sua cara e ela queria saber quem foi o imbecil que criou o frio.
Parou no farol (enquanto se perguntava quem tinha sido o imbecil que tinha criado a porra do farol, assim como o carro, a rua e a calçada). Percebeu que tudo parecia de uma imbecilidade tamanha, que a única imbecil por ali era ela. Notou que as pessoas nem notavam a sua presença na rua. Mas ela queria ser notada. Pensou que talvez se ela caísse, todos iriam olhar (nem que fosse para rir da sua burrice). Achou que estava pensando tanta estupidez, que era melhor parar de pensar. Mudou a música do iPod e continou a andar, sem destino.

Quando notou que já tinha andado o suficiente para não ter a menor noção de onde estava, sentou num banco de praça ordinário e começou a imaginar como seria se ficasse ali para sempre. Sei lá, poderi comer as coisas que o mercadinho da esquina vendia até acabar o seu dinheiro. Aí, poderia vender seus livros no sebo ali do lado e isso lhe daria, sei lá, um mês de subexistência.
Subexistência. Palavra engraçada essa. A pessoa que comia só o necessário e não podia comprar as coisas da moda e coisa e tal não existia. SUBexistia. Era uma classe inferior, destinada a uma subvida, cheia de privações. O que uma pessoa pode fazer sem um tênis da moda, um mp3 e um video-game? Noooossa, realmente a vida é cheia de tristezas, né?

Depois achou melhor parar de ficar pensando em coisas inúteis. Era hora de enfrentar a vida (ou seria uma subvida?). Levantou e ficou pensando por algum tempo como faria para voltar para casa. Seus pés doíam (maldita bota desconfortável) e o frio estava piorando. Não viu nenhum ponto de ônibus por perto e percebeu que estava em um bairro muito bonito. Achou que seria muito difícil que um bairro tão legal tivesse um ônibus para a sua casa. Prefiriu arriscar no táxi (o que lhe renderia muita economia nos próximos 50 almoços). Falou o endereço, e logo o motorista respondeu com um sorriso:
- Olha, moça. Sei que não tenho nada com isso, mas acho que deveria te avisar. Você está a 40 min do endereço que está me passando. Não estou querendo dizer que acho que você não tem dinheiro. Mas noto pela sua cara de cansada que provavelmente você não veio de táxi.
- Não se preocupe, não vou dar um calote. Se estou te dando o endereço é pra você ir e pronto. - ela estava realmente amarga.
- Tudo bem. Não vou mais te importunar. Mas é que eu te observei sentada por tanto tempo naquele banco. Estava com cara de triste, perdida. Pensei até em te perguntar se queria um casaco, porque está realmente frio. Não sei como você agüentou tanto tempo sem blusa.
Foi aí que ela notou que tinha esquecido a maldita blusa em algum lugar por aí. Odiou a si mesma com tanta força que começou a chorar. Não que a blusa fosse tão importante, mas sentiu-se uma completa idiota. Como podia ter largado a blusa por aí e nem ter notado que estava com frio? Percebeu que só poderia estar mesmo ficando meio louca ou qualquer coisa do gênero.
- Olha, moço. Des-des-desculpa, viiiu? - disse, chorosa.- Não era a minha intenção gritar com você. Mas hoje foi um dia péssimo, daqueles que a gente quer esquecer.
- Todo mundo passa por isso. Não se preocupe. Você foi até gentil, se eu for comparar com uns ricaços que entram aqui no táxi. Vou levar você o mais rápido possível. O melhor remédio para dias assim é um bom banho quente e um chá.
- É, pode ser. Mas não sei se isso vai me ajudar muito.

Chegando em casa, exitou. Com a chave na mão, percebeu que tremia, mas estava certa de que não era o frio. Não sabia o que encontraria lá dentro. Isso lhe dava dor de estômago. Enfrentou seu medo e entrou. Ele estava deitado no sofá, cochilando. Seus olhos estavam molhados de lágrimas, e ela notou que ele tremia mais que ela. Tocou em seu rosto e logo obteve a resposta: ele estava ardendo em febre. Não sabia se o odiava por ainda estar na casa dela, e ainda por cima doente ou se estava tão preocupada que isso a deixava nervosa. Fez um chá, o acordou. Sem saber o que dizer, ele tentou levantar, se explicar, mas ela impediu. Deu o chá e disse para ele ir para a cama.

A verdade é que ela sabia que queria que ele ficasse doente para sempre. Que era pra nunca ter que ir embora. Não que ela pudesse pedir para que ele ficasse. Ela sabia que ele não suportaria mais nenhum dia da ausência compartilhada que ela podia oferecer. Ele, então, pegou as malas, pôs no carro, e veio se despedir.
- Olha, queria te dizer que vou guardar com muito carinho tudo o que vivemos juntos. Sabe, dois anos podem ser uma vida...
- É... uma vida que jogamos fora!
- Não quero discutir com você mais uma vez. Quero lembrar de você com aquele sorriso lindo que eu sempre gostei. Não... não chora. Por favor. Você sabe o quanto eu te am...
- O quanto você me amou? Não, não sei. Porque esse amor todo não foi suficiente para você ficar do meu lado. No primeiro problema, você tá me abandonando. E é sempre assim. Todos vão embora. E eu sempre fico aqui sozinha. Nesse apartamento vazio.
- No primeiro problema? Olha, vou te dizer uma coisa: a coisa toda acabou não foi por causa dos problemas. Todo casal tem problemas. Mas o que você não entende é que você é quem afasta todos que te amam. Sempre. Quando você percebe que vai precisar de alguém, você vai lá e se afasta...
- Mas eu ainda preciso de você! (ela sabia que ia se arrepender pelo resto da vida por ter se "humilhado" desse jeito)
- Pode até ser, cara. Mas você nunca vai assumir isso pra você mesma. Você precisa aprender a permitir que as pessoas te amem.
- Mas um dia você me amou?
- Eu ainda te amo.
- Então...
- ... mas isso não é suficiente. Você tem que se amar. E perceber que você é digna de um amor para sempre. Mesmo que o sempre seja até a semana que vem...

Ela sabia que aquela coversa nunca mais sairia da sua cabeça. Talvez porque soubesse que era tudo o que todos pensavam, mas só ele tinha tido coragem para dizer. Ou talvez porque ele a desafiou, mexeu lá no fundo e a deixou com os pedaços.
Mas de uma coisa ela tinha certeza: ela nunca seria digna do amor que ele sentia por ela....

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

confissão

só quero o óbvio, aquilo que todo mundo quer e ninguém admite.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Por quoi viens-tu si tard?

Ela estava andando. Apenas andando. Andava, ouvindo música. Umas em francês, que era pra aprender um pouquinho (quem sabe seu inconsciente aprendia a falar em outra língua?).
Passou por pessoas apressadas. Ia chover. Ela não tinha guarda-chuva e o livro dentro da bolsa ia virar sopa (o que não era um pensamento assaz agradável). Mesmo assim, parecia que suas pernas não obedeciam sua ordem mental de ir mais rápido. Ela caminhava como em um passeio, em que a gente fica observando cada coisa a nossa volta. Mas ela olhava e não via nada.
Enquanto isso, lá dentro, a briga era grande. Tinha aprendido com uma amiga a ficar pra dentro. Mas ela fazia mais disfarçadamente, como se tivesse um eu que estava pra fora, mas era o mais superficial e sem importância. Mas o eu que estava pra dentro, e que nos últimos tempos não tivera coragem de colocar nem um dedinho pra fora, estava correndo, desesperado, pesando que a chuva de sentimentos que caia em cima dele ia transformar suas certezas em sopa. E essas certezas, que na verdade eram apenas fantasias para as dúvidas, iriam pelo ralo. O ralo era boca do ser de fora, boçal, que nem sabia direito o que estava fazendo, e não conseguia engolir as certezas, pra elas não fugirem.
E continuou em sua caminhada tranquila, às vezes sendo empurrada por guarda-chuvas que pareciam molhá-la mais que a própria chuva. Ela era fria. Gostosa. Parecia estar lavando tudo, por dentro e por fora. Foi aí que percebeu que o que a incomodava lá dentro não era o que ela era, era exatamente esse incômodo de se incomodar pelo que se é. Sorriu. Confuso, né?
Mas voltou a pensar no livro. Melhor comprar outro, que é pra não ficar sem. E o resto, deixa ser. Afinal, não poderia mais viver como se tudo fosse ruim. Quando se olha para o céu durante a chuva, se sabe que há beleza até nas piores tempestades. Chorou, aquele chorinho tristinho, sentido, que era pra jogar pra fora tudo que lavou lá dentro. Aquela era a sopa das certezas que tava saindo. Não quis engolir, não queria que elas voltassem...
Queria fotografar-se. Tem coisa mais bela que uma tristeza sincera?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Caminho das pedras

Às vezes parece que posso vê-lo andando comigo pelos corredores frios por onde passo todos os dias. Ouço sua voz repetindo "eu confio em vc". E, enquanto vc continua a repetir nesse meu pesadelo acordada andando pelos corredores frios, eu penso que talvez isso não seja verdade. E o que é, afinal, a verdade? Nada mais é, na verdade, do que aquilo que nos forçamos a acreditar. O que me faz ponderar, nesse caso, que o que sentimos também é uma verdade apenas enquanto acreditamos que é.
Mas aí me forço a não gostar mais de você. E, ainda forçosamente, penso em todas as coisas ruins que já senti e já vivi por sua culpa. A culpa é sempre sua. Sempre. E penso nisso até doer, até lembrar que pensar nisso não muda nada.
E continuo gostando de você. E perdoando até o que você não fez. Não te desejo mais. Mas ainda idolatro tudo aquilo que você não é, mas que eu fiz você passar a ser de tanto acreditar. Às vezes, me pego lembrando de coisas que não vivemos. Me lembro de minhas fantasias repetidas até se tornarem realidade. Me lembro das nossas noites, nossas viagens, das suas palavras doces. Posso lembrar até das nossas brigas e de seus ciúmes. Ou do jeito fofo como você dorme. E da força brusca como você me recrimina por ter chegado atrasada.
Aí, no meio de tanta confusão, acordo. E está frio nesse corredor sem fim...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

pés frios

Levantei no meio da noite, com sede. na verdade, só queria sair daquele quarto abafado. não aguentava mais aquela respiração contínua, e seus pés gelados encostando na minha perna. não que fosse de tudo ruim, mas às vezes incomoda. andei na casa sem saber pra onde ir (esqueci da sede). então, num canto perdido da sala estava a bolsa. nela, o cigarro. fumei para esquecer que, ao amanhecer, vc me diria o quanto a gente estava bem sendo amigos. não queria lembrar que, pra vc, aquela poderia até ser importante, mas ainda não era tudo. fazer o que. na falta de vodka, o cigarro poderia até enganar.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sabotagem*

- dois.
Ahn? Ah. Quer me explicar. E eu não quero. Quer me dar uns dez motivos e eu preciso de motivo algum. Você tá é cagando de medo, eu bem sei. É porque é um besta que acredita em previsões. Até leva guarda-chuva quando a moça-simpática-loira-e-sorridente diz que as manhãs terão um dia-sol ou dia-chuva. Lê seu horóscopo logo que entregam seu jornal de gente séria de todos os dias. Mas diz que não acredita, afinal, você é cético como um capricorniano. E ateus, graças a deus. E não está afetado por estória alguma. Só pela história. É, eu sei.
dá um avanço no botão de tempo. coloca lá no futuro (mesmo que o futuro seja presente no mundo de suposições). Dá uma pausa e vê que ainda anda com os pés para dentro. E não tem ortopedia que conserte este defeito de sua falta de coragem. Não tô pedindo para que me ame, não, não. Só estou segurando sua mão e, se não estiver dentro dos cinco minutos seguintes, quem sou eu para questionar. Quem é você para não tentar?


*Texto original no blog da Vanessa, mas sei que ela não vai ligar de eu postar aqui. É dela, mas ela sabe que, no fundo, sempre foi meu.
"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. (...)
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas."